ONG Arco- Íris pede amplas investigações no caso das duas transexuais mortas em Ribeirão Preto

Para Fábio de Jesus, presidente do grupo, marcas de violência encontradas nos corpos das vítimas é sinal de ação de ódio pensada para matar

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A cada uma hora, um LGBT é agredido no Brasil Foto: Pixabay / TheDigitalArtist

O presidente da ONG Arco-Íris de Ribeirão Preto, Fábio de Jesus, está pedindo uma ampla investigação da Polícia Civil nas mortes das duas transexuais, identificadas em Ribeirão Preto nesta sexta-feira (9) e sábado (10). A entidade e os familiares das vítimas pedem rigor nas apurações, pois temem ação de um grupo de extermínio contra as travestis.

A primeira, conhecida como Marcia Marcita, foi encontrada na última sexta-feira, em uma casa no Parque  Avelino, na zona Norte da cidade, com diversas marcas de violência e a outra, Milena Massafera, foi localizada na noite de ontem, sábado, numa quitinete na Vila Tibério, região Oeste, com facadas por todo corpo. 

“As duas foram mortas com grande violência. Marcas pelo corpo inteiro, incluindo os pés, o que indica ação de ódio pensada para assassinar. Como Lgbt, eu também temo por minha vida. Isso não pode continuar”, diz Fábio de Jesus. 

Segundo o presidente da ONG, a população LGBTQI+A nunca foi tão violentada em seus direitos e nas ruas, como atualmente, por isso, “nós já estamos dialogando com o Ministério Público e a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo para abrir uma audiência pública no interior, porque não é só em Ribeirão Preto que aconteceram esses casos”. 

“LGBTfobia é crime no país hoje e nós não podemos e não vamos deixar que isso saia impune”, afirma o presidente da ONG Arco-Íris, “A Milena era muito minha amiga, nós tínhamos trabalhos sociais juntos que fazíamos pela ONG. Ela nunca brigou com ninguém. Era uma menina meiga, carinhosa, sempre foi doce e humilde. É uma de nós que se foi e isso para nós é muito triste”. 

Violência nas ruas

A cada uma hora, um LGBT é agredido no Brasil, de acordo levantamento realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com base em dados do Sistema Único de Saúde (SUS). Entre 2015 e 2017, data em que os dados foram analisados, 24.564 notificações de violências contra essa população foram registradas, o que resulta em uma média de mais de 22 notificações por dia, cerca de um registro a cada hora. 

Para essa população, resta o medo de andar nas ruas. “O nosso sentimento é de muita tristeza, porque ver duas mulheres trans ter o corpo tombado no momento em que estamos vivendo no país, de muito discurso de ódio contra nossos corpos e nossa sexualidade”, conta Fábio de Jesus, “eu tenho muito medo de ser o próximo, ou de nossos amigos e irmãos serem os próximos”.