MP vê usuário prejudicado e abre inquérito sobre decisão da Transerp que amplia espera em pontos

Intenção é verificar custos dos contratos e verificar se decisão da Transerp contrariou o interesse do passageiro do transporte coletivo

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Terminal urbano no Centro de Ribeirão - Foto: Murilo Badessa

O Ministério Público de Ribeirão Preto informou que irá questionar Transerp, empresa que responde pelo transporte coletivo na cidade, sobre o aumento do intervalo de espera em 39 linhas. A medida foi anunciada nesta semana. O MP informou ainda que pretende apurar a falta de limpeza nos banheiros dos terminais urbanos.

“Iremos pedir esclarecimentos à Transerp sobre essas modificações na frequência das linhas. Queremos saber se a empresa teve motivo para aceitar essa alteração”, conta Sebastião Sérgio da Silveira, promotor de Justiça responsável pelo inquérito.

Ainda de acordo com Silveira, a prefeitura não pode prejudicar o usuário para beneficiar a empresa que opera o serviço. “As alterações podem ser feitas, mas nunca em prejuízo do usuário. Nesse contrato, desde o início, o que percebemos é justamente que o usuário tem sido prejudicado seguidamente”, disse.

Procurada, a Transerp não se manifestou sobre a decisão do Ministério Público até o fechamento da matéria. Na ocasião, a empresa informou que “a adequação na grade de algumas linhas são para promover equilíbrio na demanda de passageiros, sendo que os horários de pico foram mantidos, não havendo exclusão de linhas”.

Já a ProUrbano, que opera o transporte coletivo na cidade, informou em nota que “as reduções nas linhas foram somente em partidas pontuais, não foi reduzido o número de veículos. O ajuste é um processo natural de qualquer sistema de transporte”.

O caso

Graças a uma mudança autorizada pela Transerp, pelo menos 39 linhas de ônibus serão reduzidas e o tempo de espera será maior. O aumento na demora deve piorar ainda mais a situação de quem precisa do transporte na cidade, já que, segundo um estudo feito pelo aplicativo de mobilidade Moovit, o tempo de espera na cidade supera os 20 minutos, tempo superior ao registrado em grandes cidades como Rio de Janeiro e São Paulo (19 minutos) e Curitiba e Florianópolis (17 minutos). De acordo com a Transerp referentes a maio de 2019, perto de 165 mil pessoas usaram, diariamente, o transporte coletivo.

Banheiros

Sebastião Sérgio informou ainda que irá investigar, também, a situação dos banheiros dos terminais urbanos da cidade. Conforme mostrado com exclusividade pelo Grupo Thathi, o problema é constante e afeta vários terminais. “Queremos entender se essa manutenção está incluída no valor da tarifa e de quem é a responsabilidade pela execução dos serviços. Espero que a empresa apresente os números para podermos ampliar as investigações”, disse.

Outro lado

Para o engenheiro de tráfego Antonio Enout, a medida vai na contramão da tendência das grandes cidades, que é diminuir o tempo de espera e valorizar o transporte coletivo como alternativa na resolução dos problemas de mobilidade causados pelo trânsito.

“Quando você aumenta o tempo de espera, você incentiva a pessoa a não usar o transporte coletivo. O poder público deveria buscar alternativas não apenas para a diminuição do tempo de espera como do preço da passagem como forma de valorizar o transporte de massa, inclusive pensando em subsídios”, afirma o especialista.