A Polícia Militar informou que deverá abrir um inquérito policial militar para apurar a ação de agentes da lei que abordaram, durante um fim de semana, grafiteiros que trabalhavam em um viaduto de Ribeirão Preto. Segundo a PM, “todos os envolvidos e testemunhas serão ouvidos” nos próximos dias.
O caso, que foi denunciado com exclusividade pelo Portal do Grupo Thathi, aconteceu na noite do último sábado. O grupo realizava um trabalho artístico no viaduto Jandyra de Camargo Moquenco quando foi abordado por policiais militares. Um deles sacou a arma para um dos artistas durante a abordagem.
Segundo Elieser Pereira, que foi abordado pelo policial com arma em punho, a ação não pode ser classificada como normal. “Outras unidades tinham passado, checaram o documento e não houve problema. Entre 7 e 8 da noite, eu estava pintando, aí uma viatura passou e hora que ela me viu pintando, ela meio que freou, dando um cavalinho de pau, o policial já sacou a arma, apontou pra mim e já começou a gritar pra mim não correr. Aí eu levantei as duas mãos, falei por favor abaixa esta arma, não vou correr, não tenho motivo para correr, não precisa agir assim, abaixa esta arma”, relembrou Leser.
De acordo com Elieser, o policial duvidava da autorização que o grupo tinha para realizar a grafitagem. ““Ele duvidou do documento que eu estava apresentando, ele não se contentou, quis confirmar na prefeitura se a autorização era válida, isto demorou quase 1 hora e enquanto isto ele ficou falando um monte de coisa pra mim”, completou.
Confirma a entrevista de Elieser ao programa Mentoria 2020:
https://youtu.be/NF26LIO4DB8
Abordagem
Instada sobre o assunto, a assessoria de imprensa da PM informou que “a abordagem realizada foi dentro dos Procedimentos Operacionais Padrão não havendo nenhuma demonstração de racismo na ação policial”.
Elieser discorda e afirma que o caso pode ser encarado como uma exemplificação do que ele chama de racismo estrutural. “O racismo estrutural influencia nas abordagens e nelas somos julgados primeiros como culpados, infratores, criminosos para depois sermos suspeitos e averiguado. A cor da pele influência sim e a arte de rua também. A gente sofre com este pré-julgamento dos ignorantes”, afirmou ele, que é também educador social e produtor cultural.
Sobre o fato de o mesmo grupo ter sido abordado quatro vezes por diferentes viaturas, a força esclareceu que o motivo foi a falta de comunicação das autoridades municipais sobre a autorização para o grafite.
“Não houve comunicação à instituição sobre a autorização do município para atividade, sendo necessário checar as informações e localizar o responsável durante o feriado da cidade”, afirmou a PM, em nota.
Procurada, a secretária da Cultura, Isabela Pesotti, já havia informado que a administração fez todas as comunicações e emitiu um documento que autorizava os artistas a trabalharem no local.
Correção: A assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública informou que cometeu um erro ao informar que o inquérito para investigar o caso tinha sido aberta. A pasta solicitou a correção de que o inquérito ainda não foi aberto. Está sendo realizada uma apuração preliminar que irá decidir se haverá ou não a instauração. A informação foi corrigida.