“Não adianta exigir do transporte coletivo se as pessoas não usam máscara”, diz Nogueira

Em live nas redes sociais, prefeito afirmou que a cidade não viveria fase restritiva se população respeitasse medidas de proteção

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Imagem ilustrativa de Duarte Nogueira - Foto: Divulgação

Enquanto o comércio e a população que desrespeitam medidas de contenção ao novo Coronavírus sofrem punições, como multas e até mesmo interdição de estabelecimentos, o prefeito Duarte Nogueira disse que os cidadãos não podem questionar a falta de segurança no transporte público, enquanto saem nas ruas sem máscara e desrespeitam decretos municipais.

A afirmação foi dada durante coletiva de imprensa, realizada na tarde desta segunda-feira (24) nas redes sociais, para atualizar as medidas de restrição na cidade. Questionado sobre adotar medidas preventivas para para garantir a segurança de passageiros e motoristas do transporte público coletivo contra à Covid-19, o prefeito afirmou que, por não usar máscara e aglomerar, a população não pode reclamar. 

“Não adianta ficar reclamando dessas questões de transporte coletivo, botando defeito nisso ou naquilo outro, porque se tudo isso fosse feito com todo mundo usando máscara e não fazendo o que não pode e não deve ser feito, nós não estaríamos tomando essa decisão [de lockdown] nesse instante, por necessidade de garantir a vida daqueles que estão seguindo as normas corretamente”, disse o prefeito.

Veja no vídeo abaixo a fala de Nogueira na íntegra 

O prefeito disse que a Empresa de Trânsito e Transporte Urbano de Ribeirão Preto (Transerp), responsável por regular e fiscalizar o Consórcio PróUrbano, tomou todas as medidas necessárias para garantir a segurança de motoristas e passageiros e reforçou a exigência do uso de máscaras para entrar no veículo, ato que, segundo Nogueira, impediria o aumento das restrições, se fosse adotado por todos. 

“Quanto à questão de álcool em gel, distância com plástico, todas essas questões já foram amplamente divulgadas. Todas as vezes que os ônibus chegam no terminal é feita a limpeza, os motoristas exigem que os passageiros não adentrem nos ônibus sem o uso de máscaras. Se todo mundo usasse máscara, nós não estaríamos aqui agora fazendo essas restrições”, afirmou Nogueira. 

Para o prefeito, não adianta exigir do transporte coletivo questões como essas, “se as pessoas não usam máscara, se aglomeram e fazem pancadão durante os finais de semana”. Confira no vídeo abaixo. 

Controvérsia 

Apesar de Nogueira afirmar que todas as medidas necessárias para evitar o contágio foram tomadas, o presidente do Sindicato de Motoristas de Ribeirão Preto, João Henrique Bueno, conta que, na verdade, as ações para garantir a segurança dos usuários do transporte coletivo e dos condutores só entraram em vigor após o Sindicato mover um processo judicial contra a Transerp em março de 2020.

As medidas de segurança contra a Covid-19 nos ônibus do transporte público de Ribeirão Preto foram determinadas em juízo em uma ação judicial para autorização da distribuição de máscaras para os motoristas e álcool em gel. Só isso, não tem mais nada”, disse Bueno. Além disso, o representante afirma que outras medidas foram solicitadas, porém até então nunca foram adotadas pela prefeitura da cidade. 

“Não existe essa divisão entre o motorista e o usuário do transporte. O que nós pedimos naquela época para as empresas foi que parasse a cobrança do dinheiro no ônibus, porque o dinheiro é um dos maiores transmissores de doenças no mundo, mas infelizmente as empresas não acataram e a Transerp também não”, conta o presidente do Sindicato. 

Espaço de contágio 

O transporte público coletivo é apresentado como um dos maiores ambientes de proliferação do novo Coronavírus, e, inclusive, foi alvo de pesquisa do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) de Ribeirão Preto e também de preocupação para o Instituto Ribeirão 2030, em março deste ano

De acordo com o Ciesp,  empresas cujos trabalhadores são mais dependentes do transporte coletivo tiveram maior número de afastamentos por Covid-19. Entre nove empresas onde o percentual de pessoas que usam o transporte coletivo variou de 6% a 30%, a taxa de afastamento ficou acima de 6% em todas. Quatro delas chegaram a registrar contágio acima de 10%. Porém, de 19 empresas, onde menos de 5% dos trabalhadores dependem do transporte coletivo, 11 não tiveram sequer 2% de seus funcionários afastados desde o início da pandemia. 

A situação preocupou o Instituto Ribeirão 2030, que em março deste ano enviou um ofício a todos os vereadores cobrando atenção ao tema. De acordo com um levantamento feito pela entidade, em fevereiro, 17 usuários de diversas linhas e dias reclamaram oficialmente na Transerp sobre a superlotação de ônibus.

“Isso é apenas um extrato, pois uma parcela ínfima formaliza a reclamação. É uma situação que não pode ser mais tolerada, com riscos diretos à saúde individual e coletiva da população. E, indiretos, à economia, tendo em vista que com a pandemia fora de controle serão impostas medidas de fechamento total ou parcial dos setores produtivos”, afirmou Eduardo Amorim, presidente do Instituto Ribeirão 2030.