Percentual de mortes de pessoas com menos de 40 anos por Covid sobe 71% em Ribeirão

Dados foram obtidos pelo Grupo Thathi nos boletins oficiais da prefeitura; pessoas com menos de 60 anos já representam 25% dos mortos em 2021

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Paciente em leito de UTI - Foto: Pixabay

O percentual de pessoas com menos de 40 anos que morreram em decorrência da Covid-19 em Ribeirão Preto aumentou quase 72% em 2021 em relação a 2020. Os dados foram obtidos pelo Grupo Thathi e são embasados nos números oficiais fornecidos pela prefeitura da cidade.

Em cada 100 pessoas que morreram de Covid-19 em Ribeirão durante o ano de 2021, seis tinham menos de 40 anos. No ano passado, esse número era de 3.

Durante todo o ano de 2020, foram 33 mortes abaixo dos 40 anos, sendo 27 óbitos de pessoas com idade entre 30 e 39 anos; cinco dos 20 aos 29 e uma dos cinco aos nove anos. No total, essas mortes representaram 3,2% do total.  

Nos três primeiros meses de 2021, foram 28 mortes, sendo 23 dos 30 aos 39 anos; três dos 20 aos 29 e uma nas faixas etárias dos cinco aos nove e dos 10 aos 19. Em relação ao total, mortes abaixo dos 40 anos já somam 5,5%.

Durante todo o ano passado, Ribeirão registrou 1043 mortes causadas pela doença, contra 510 divulgadas em 2021.

Mudança de perfil

A infectologista Silvia Leopoldina, que atuou no combate à pandemia em Manaus, relata que essa tendência não és exclusividade de Ribeirão Preto e confirma: mais jovens estão morrendo de Covid. E ter comorbidade não é um fator tão relevante, segundo ela.

“Sem dúvida muito mais jovens estão morrendo. Não estamos falando só de grupo de risco: isso está em todas as faixas etárias, atingindo bebês, crianças, adolescentes mesmo sem comorbidade”, avalia a especialista.

Exemplo

Rogério Campos, 39, passou sete dias internado por conta da Covid – Foto: Acervo Pessoal

Embora felizmente não tenha ingressado nessa estatística, o designer Rogério Campos, 39, ilustra bem a mudança de comportamento do vírus. Sem qualquer comorbidade, ele teve os primeiros sintomas em 16 de março e fez o teste, que deu positivo, no dia seguinte.

Seguiu os protocolos de tratamento em casa, mas, como a doença não dava sinais de cura, voltou ao hospital no dia 25. A saturação dele estava em 88 – o recomendado é que não caia de 95. “Foi nesse dia que vi que era grave. Fui ao hospital às 5h e não sai mais”, conta.

Ele permaneceu internado por sete dias, nos quais continuou a piorar, mesmo com o melhor tratamento. Usou máscara de oxigênio e por muito pouco não foi intubado. A melhora começou e ele teve alta nesta quinta (1º). “Foram sete intensos dias de internação devido a complicações da Covid. Pra você que duvida da força deste vírus, eu nunca fui grupo de risco e, se não fosse a graça de Deus, não estaria aqui agora”, desabafou, nas redes socais.

Vítimas mais novas

Os dados de Ribeirão mostram, ainda, que o percentual de pessoas com idades entre 40 e 49 anos que morreram vítimas da Covid também tem crescido. Em 2020, esse grupo representava 3,5% do total de mortes, enquanto, em 2021, esse percentual já é de 4,9%.

Já pacientes com idade entre 50 e 59 anos passaram de 9,1% do total para 14,5%, outro dado que corrobora a diminuição da idade dos pacientes.

No total, portanto, pacientes com menos de 60 anos representavam, no ano passado, perto de 16% do total das vítimas. Hoje, são quase 25% – um aumento superior a 63,4%. Significa que, a cada 100 mortes, 25 foram de pessoas com menos de 60 anos. No ano passado, eram 16.

Essa realidade já foi percebida pela administração da cidade, sendo alvo de comentários do secretário de Saúde de Ribeirão, Sandro Scarpelini, durante entrevistas coletivas. Ele ressaltou que o perfl da infecção em 2021 permite afirmar que a visão de que jovens não são afetados pela doença não é verdadeira. “A morte entre os jovens estão aumentando, o que reforça ainda mais a necessidade de cuidado de todas as faixas etárias”, disse.

Pacientes mais idosos, por sua vez, ainda são maioria dos mortos, mas o percentual vem caindo. Entre os mais de 90 anos, o índice caiu de 8,9% para 6,5%, enquanto pacientes de 80 a 89 anos representam 21,8% das mortes em 2021 (eram 26,3% em 2020) e pacientes de 70 a 79 anos são 24,9% (contra 27,7%).