Jair Bolsonaro relaciona vacinas à Aids durante live e é acusado de propagar mentiras

Presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem sido acusado de divulgar mentira em live realizada neste domingo (24), após fazer uma falsa relação entre a vacina da Covid-19, e o vírus HIV (síndrome imunodeficiência adquirida). De acordo com especialista consultado pelo Grupo Thathi, imunizante é seguro e não pode causar a Aids. 

A afirmação do presidente foi baseada na matéria Algumas vacinas contra a Covid-19 podem aumentar o risco de HIV? publicada pela revista Exame, em outubro do ano passado. A notícia relata o receio de pesquisadores quanto ao uso do adenovírus na produção da vacina, no entanto é ressaltado que até aquela publicação não existiam comprovações científicas que tornassem as suspeitas válidas.

Um ano depois, a teoria ainda não foi comprovada. Apesar disso, durante a live, o presidente utilizou a matéria para afirmar que a vacina tem provocado o desenvolvimento da doença Aids em diversos pacientes.  “Relatórios oficiais do governo do Reino Unido sugerem que indivíduos totalmente vacinados estão desenvolvendo a síndrome de imunodeficiência adquirida”, disse Bolsonaro, que afirmou ainda que não comentaria o caso. 

Confira:

Fake news 

De acordo com o cientista Robson Luis Ferraz do Amaral, da União Pró-Vacina da Universidade de São Paulo (USP), não existe a possibilidade de qualquer vacina provocar o desenvolvimento da doença. “A possibilidade de um imunizante causar Aids é totalmente nula. As vacinas, sejam para qual doença for, têm o único objetivo de induzir uma resposta imunológica do nosso organismo para nos proteger da infecção por vírus ou bactérias”. 

Segundo Amaral, essa fake news surgiu a partir de um estudo publicado pela The Lancet em 2008 que mostrou que alguns pacientes – participantes de um pesquisa que buscava desenvolver uma vacina para o HV – apresentaram riscos de contrair o vírus após receber o imunizante, que tinha o adenovírus (vetor Ad5) – causador da gripe comum – em sua composição. 

“O artigo alertava que haveria um risco de contrair o vírus HIV somente se houvesse de fato uma exposição ao vírus. E o que isso tem a ver com a Covid-19? Como as vacinas contra o Coronavírus,  Sputnik V (russa) e CanSino (chinesa),  utilizam o vetor Ad5, algumas revistas fizeram publicações em 2020 citando esse artigo da revista The Lancet de 2008”. 

Amaral conta que as reportagens passaram a utilizar a matéria para levantar a possibilidade de as vacinas contra a Covid-19 que utilizam o adenovírus em sua composição aumentarem o risco de infecção pelo HIV, caso a pessoa venha de fato a ter exposição ao vírus. 

“Foi nesse momento que a informação foi distorcida. Essas reportagens nunca afirmaram que as vacinas contra covid-19 pudessem transmitir o vírus do HIV, até porque se trata de uma ideia absurda. A relação de tomar vacina e adquirir Aids não tem fundamento algum”, ressalta o cientista.

Antivacina

Amaral pontua ainda que nenhuma das vacinas que estão sendo aplicadas no Brasil, foram desenvolvidas com vetor Ad5. Além disso, o pesquisador conta que notícias como essa, divulgada pelo presidente, podem impulsionar o movimento antivacina no País. 

“Os propagadores desse tipo de informação encontraram na pandemia uma situação propícia para implantar o negacionismo científico. Encontraram uma sociedade fisicamente e emocionalmente abalada por um vírus desconhecido e totalmente vulnerável a receber notícias falsas. A situação se torna pior quando esse tipo de informação deixa de ser apenas um texto ou áudio que circula nas redes sociais e vai parar no discurso de uma figura pública influente. Ou pior, de um chefe de estado”.

AIDs/Hiv

O pesquisador conta que a AIDs é uma doença causada pelo HIV. “Esse vírus ataca o nosso sistema imunológico, ou seja, aquele responsável por defender o nosso organismo de outras doenças. Uma vez que esse sistema fica debilitado, nosso corpo fica mais vulnerável ao aparecimento de doenças oportunistas, como por exemplo, a tuberculose.” 

O HIV pode ser transmitido através de sexo sem proteção e prevenção combinada além do compartilhamento de seringas contaminadas, transfusão de sangue contaminado, durante a gravidez e amamentação – quando a mãe é portadora do vírus e pelo uso de instrumentos cortantes não-esterilizados.

Com supervisão de Tainá Lourenço 

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