Biomédica desvenda dúvidas sobre a vacina contra a Covid-19

Saiba como funciona o processo de desenvolvimento de vacinas; especialista comenta sobre os testes

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Profissional da saúde aplica vacina em paciente - Foto: Agência Brasil

Em meio à expectativa pela vacinação em massa contra a Covid-19 no Brasil, surgem inúmeras dúvidas sobre a produção em tempo recorde, processos, diferenças entre os tipos, testagem e eficácia. Para compreender essas e outras questões e o papel da ciência para a população mundial, conhecer os profissionais que estão por trás e como eles atuam é um dos caminhos.

A coordenadora do curso de Biomedicina da Universidade Estácio, Tatiana Cordeiro, lembra que muito se questionou sobre o tempo de desenvolvimento da vacina contra a Covid-19 em escala global e sua eficácia, mas não é a primeira vez que a ciência precisa acelerar um processo para conter um dano tão grave.

“Na década de 1960, os Estados Unidos sofreram um surto de poliomielite, o que obrigou os pesquisadores a ignorar algumas etapas para produzir rapidamente uma vacina, e foi um sucesso. A vacina para a Covid-19 foi produzida em menos de 12 meses porque, considerando um cenário de pandemia, foi necessário e houve investimentos ostensivos em tecnologia e equipes especializadas. O que garante a segurança é que todas as vacinas, sem exceção, passam por um rigoroso escrutínio da Anvisa e demais órgãos fiscalizadores”, descreve.

Fases

Tatiana Cordeiro explica ainda que as vacinas passam por fases e etapas que asseguram seu êxito. A etapa inicial é feita pelos cientistas no laboratório visando descobrir quais moléculas devem ser utilizadas na composição da vacina. Nesta fase são avaliadas dezenas de possibilidades da composição da vacina.

Já a segunda fase não clínica consiste na composição desenvolvida (vacina teste), passa por testes com animais em experimentações in vitro para comprovação da eficácia, enquanto a terceira fase clínica acontece após avaliação dos resultados em animais, quando, vista uma certa segurança, os testes passam a ser realizados em humanos.

A partir dai, os testes são divididos em 3 etapas: a aplicação em um grupo pequeno de voluntários sadios, onde ocorre o teste da segurança e a eficácia da vacina, bem como a resposta imunológica do composto. Depois, na segunda etapa, testa-se a eficácia, e desta vez é aplicada em um grupo com centenas de voluntários, incluindo indivíduos do grupo de risco para aquela enfermidade. “Por fim, na terceira etapa milhares de pessoas testam a vacina. Ela é aplicada na tentativa de combate à doença para a qual se destina. Aqui ocorre a aprovação do produto, mas ele continua em estudo para avaliar possíveis efeitos adversos e como reage ao sistema imunológico dos pacientes”, detalha a biomédica.

Dúvida

Tatiane Cordeiro, biomédica e coordenadora de Curso da Estácio – Foto: Divulgação

Outra dúvida bastante comum é sobre os tipos de vacinas e Tatiana Cordeiro esclarece que elas são produzidas, em geral, a partir de microrganismos inativados ou atenuados e por substâncias que estimulam as defesas imunológicas ao entrar em contato com um agente infeccioso.

“As vacinas atenuadas passam por um processo em que o agente infeccioso, apesar de se encontrar vivo no interior da vacina, seja incapaz de causar doença, mas dê uma boa defesa ao organismo. Exemplos deste tipo de vacina são as que combatem sarampo e febre amarela. Já as inativadas possuem fragmentos (partes), de microrganismos que não estão vivos. Podem conter proteínas que irão induzir a produção de anticorpos sem causar as doenças. São exemplos de vacinas inativadas as contra meningites e hepatites”, elucida.

Temática que reacendeu durante a pandemia, o movimento antivacina pode ser tão nocivo quanto o novo coronavírus, como reflete a coordenadora de Biomedicina da Estácio.

“Infelizmente este movimento, extremamente perigoso, existe em vários países do mundo e ganhou força em meados dos anos 1998 devido a uma publicação de um estudo nada confiável, feito por um médico britânico. Se o movimento antivacina aumentar, doenças até então erradicadas poderão voltar. Isso acarretaria mais custos à saúde pública, já que mais pessoas demandarão cuidados. Teremos um aumento de pessoas debilitadas e até de óbitos. Sem falar no impacto econômico, pois uma pessoa doente não consegue exercer seu trabalho. Manter o calendário de vacinação em dia dos nossos filhos é de suma importância. Além das crianças, precisamos lembrar das vacinas para os profissionais de saúde e idosos, como a da gripe”, afirma.