Aparelho ortodôntico ajuda a desestimular hábito de “chupar o dedo”

Chupar o dedo pode trazer prejuízos à saúde bucal da criança a curto, médio e longo prazo, sendo importante a retirada desse hábito o quanto antes

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Foto: Divulgação

A sucção digital, mais conhecida como chupar dedo, é um hábito bastante comum, principalmente em crianças. No começo, é um ato voluntário, mas, ao longo do tempo, a criança passa a levar o dedo à boca inconscientemente. E fazer a criança perder esse hábito pode ser uma tarefa difícil.

Conta o professor da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (Forp) da USP, José Tarcísio Lima Ferreira, que chupar o dedo pode representar, para a criança, a satisfação de uma necessidade que pode oferecer conforto emocional, seja em um momento de angústia ou até mesmo durante o sono. Com o surgimento dos primeiros dentes, acrescenta o especialista, o dedo funciona como alívio para o incômodo nas gengivas.

Mas, como um hábito, chupar o dedo pode trazer prejuízos à saúde bucal da criança a curto, médio e longo prazo, sendo importante sua retirada o quanto antes. E foi pensando em solucionar o problema que pesquisadores da Forp decidiram utilizar um aparelho ortodôntico, chamado Impedidor de Hábito Fixo (IHF).

O aparelho

Segundo o professor Ferreira, o equipamento já existia no mercado desde 1972 e, em 2010, sua equipe de pesquisadores adaptou o IHF para “impedir a criança de levar o dedo à boca”. Também conhecido como grade vertical, o aparelho “bloqueia o espaço existente para acomodação do dedo dentro da boca” – entre o céu da boca e a língua. E, conta Ferreira, somente o uso de um dispositivo desses poderia resolver o problema, sem contudo dispensar outros aliados importantes como “tempo de ação e colaboração dos responsáveis e do paciente”.

Os professores utilizam o aparelho desde 2010, com a participação de 300 crianças entre seis e 12 anos de idade. Os resultados mostram que, atualmente, 98% delas deixaram o hábito com o uso do aparelho. E obtiveram outros resultados positivos além da retirada da sucção digital. O professor conta que o aparelho também corrigiu a maloclusão e as disfunções orofaciais observadas em pessoas não tratadas.

Os profissionais observaram que, mesmo sozinho, sem qualquer outra ação adicional, o aparelho é capaz de fazer a retirada do hábito de chupar o dedo. E ainda possibilita uma mordida corretamente fechada, com oclusão em “condição muito satisfatória”, comemora Ferreira.

O uso do aparelho abrevia o processo de retirada do hábito que, em condições normais, pode demorar meses ou anos. Segundo o professor Fabio Lourenço Romano, também da Forp e um dos professores envolvidos no processo, “entre 30 e 40 dias, a criança já não leva mais o dedo à boca”. Isso porque o aparelho colocado na boca funciona como “um anteparo mecânico, para que a criança não tenha mais a sensação prazerosa de tocar a digital no céu da boca”.

Prejuízos

Com o passar do tempo, chupar dedos pode trazer uma série de prejuízos para a saúde da criança, principalmente esteticamente. De acordo com Romano, o hábito pode causar diferentes tipos de maloclusão, como mordida aberta anterior e posterior, que precisam ser corrigidas com tratamento ortodôntico. Além disso, a criança pode ter uma inclinação dos dentes, que “vai ser refletido na estética facial”.

Romano ainda explica que o melhor é colocar o aparelho em crianças acima de 5 anos de idade, “porque, antes dessa faixa etária, a criança não tem maturidade psicológica suficiente para entender os benefícios do aparelho”.

Tratamento

O professor Ferreira conta que o valor de aparelhos como esse varia conforme a região e a gravidade do caso. Apesar disso, ele destaca que os tratamentos ortodônticos feitos pela Forp são gratuitos, independente do aparelho usado. “Nosso objetivo é promover saúde e estamos muito satisfeitos com o sucesso desse aparelho, que certamente ajudará muitos profissionais na remoção do hábito de sucção digital.”

Ele ainda explica que, após a instalação do IHF, só é preciso fazer acompanhamentos mensais, que são extremamente importantes. Dos 300 casos acompanhados, apenas quatro não tiveram sucesso, “todos relacionados a pacientes que não compareceram às consultas de retorno”.