Os caminhos que trilhei para me tornar mãe: história de uma obstetra

Não tem época mais propícia para se começar uma coluna sobre maternidade do que nas proximidades do Dia das Mães, não é mesmo? Eu sou Flávia Maciel, médica ginecologista e obstetra e ajudo todos os anos centenas de mulheres a se tornarem mães. Eu também sou mãe do Rodriguinho de 7 anos e da Bianca de 5 anos e a jornada para minha própria maternidade não foi nada fácil!

Logo que me casei, eu e Rodrigo já sonhávamos em sermos pais. Eu já tinha 32 anos, ele 30 e estávamos casados há 2 anos. Sentíamos que estávamos prontos! Quando parei o anticoncepcional, não menstruei. Achei estranho, mas poderia ser ainda efeito da pílula. Passaram-se mais 2 meses e nada. Fiz alguns testes de gravidez e… nada! Meu corpo começou a ficar estranho…. mais cansada, vagina seca, algumas ondas de calor…. Como sou médica da área, nada mais fácil do que partir para uma investigação! E para minha surpresa, tive o pior diagnóstico que uma mulher que quer ser mãe pode ter: menopausa precoce! Sim, as minhas dosagens hormonais diziam que meus ovários estavam aposentados tais quais os de uma senhora de 70 anos! E agora?

Depois de todo o choro após a notícia, tive que pensar nas possibilidades: desistir de ser mãe, partir para uma fertilização in vitro com óvulos de uma mulher doadora ou pensar na adoção. Mas nada daquilo fazia sentido para mim nem para o Rodrigo na época! Por causa dos sintomas, precisei fazer reposição hormonal, mas isso não traria o retorno da minha fertilidade. Nesta época, minha mãe estava muito doente, vivendo seus últimos meses por causa de um tumor maligno na glândula parótida, e eu não tinha muita cabeça para pensar em gestação. Estávamos tão absortos com os cuidados com ela! Minha mãe foi fundamental para manter minhas esperanças de ser mãe vivas; ela sempre disse que eu seria mãe um dia, e ela foi capaz, mesmo doente, de engajar um grande grupo de mulheres para orar por mim! E creio que isso fez toda a diferença!

Para completar minha história, uns 8 meses depois de começar a reposição hormonal, descobri um nódulo na minha mama que parecia um pouco suspeito. A indicação foi a sua retirada e a suspensão da reposição hormonal. Para minha alegria a biópsia do nódulo foi de benignidade e para minha surpresa, eu menstruei depois de um mês sem hormônios, o que era um ótimo sinal! Bom, fui checar minhas dosagens hormonais e estavam bem melhores! Passado mais um mês, outra menstruação espontânea e.. exames melhores ainda! Seria um milagre?

Eu confesso, tive pouca fé. Eu estava sendo curada, mas procurei uma clínica de reprodução assistida e “aproveitei” o bom momento dos meus ovários e parti para a Fertilização in Vitro. Foi muito interessante passar por toda a experiência de tomar as injeções hormonais, aguardar o dia da captação ovariana para saber se haviam óvulos (sim, tive muitos!), aguardar para ver se seriam bem fertilizados, formando embriões saudáveis e bonitos (sim, tive 6 deles!) e depois transferí-los para dentro do meu útero. E todo o procedimento ocorreu da melhor forma possível: eu implantei dois embriões e….. não engravidei! Sangrei-os no último dia de Natal que minha mãe estaria presente e foi uma grande frustração.

Dois meses depois implantei mais dois embriões congelados e…. não engravidei novamente! Mais um luto para viver, além de ver minha mãe indo embora dia após dia! Que época difícil!

Então por aquele momento eu havia desistido. Eu não tinha cabeça para lidar com tudo aquilo vendo minha mãe partindo…. depois que ela se foi, em maio de 2011, depois de todo o choro, de toda a dor, de toda a saudade, eu realmente fiz o que deveria ter feito desde o início: agradeci a Deus o fato dEle ter me curado e entreguei a Ele o tempo e o modo dos meus filhos chegarem até mim, se Ele assim o desejasse.

E em agosto do mesmo ano, de forma natural, nosso primeiro milagre chegou! Eu mal acreditei quando vi aquele teste de gravidez com dois palitinhos na minha frente!! Deus é bom!!! E como foi maravilhosa minha gestação! E para provar a vocês que Deus sempre faz tudo perfeitamente, 10 meses depois do Rodriguinho nascer eu já estava grávida da Bianca e até hoje meus ovários funcionam perfeitamente (será que ainda vem outro bebezinho por ai algum dia desses?)!

Ser mãe é superar-se a cada dia! É receber com gratidão o milagre da vida e assumir a responsabilidade de cuidar de um grande tesouro, uma obra-prima do Pai. Nem sempre é fácil, podem haver muitas lutas e pedras no caminho, mas garanto a vocês que vale a pena esperar!

Um Feliz dia das Mães para vocês!

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