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“O Mecanismo” volta com mais bastidores da Lava-Jato

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A segunda temporada da série O Mecanismo, livremente inspirada nos fatos da Operação Lava-Jato, está no ar no Netflix. Desta vez a série segue em frente com as jornadas do herói dos personagens Ruffo (Selton Mello) e Verena (Caroline Abras) ao longo de 8 episódios nos quais o plano de fundo é o desenrolar da Operação que culminou na condenação de empreiteiros e políticos com muita ênfase no 13º empreiteiro, Ricardo Bretch (Emilio Orciollo Netto), que faz as vezes de Marcelo Odebrecht na série. Se na primeira temporada os fanáticos de esquerda ficaram incomodados com a forma como Lula e Dilma foram interpretados como parte do maior esquema de corrupção do país, desta vez a direita também é alvo de críticas pesadas.

A narrativa que coloca Sérgio Moro,  hoje ministro da Justiça, como um agente público vaidoso com interesses políticos é abordada inclusive com a situação da liberação julgada ilegal pelo STF dos famosos áudios entre Dilma Roussef e Lula. Estes dois, aliás, figuram novamente como adversários do processo judicial no episódio da nomeação de Lula como Ministro da Casa Civil, para, com o foro privilegiado, driblar a Lava-Jato. A histórica votação do impeachment também é retratada e suas implicações nos bastidores das investigações são bem abordadas pela série. Apesar do conteúdo ficcional, a linha do tempo da série traz fatos da história recente do Brasil com bastante clareza.

Quem acompanhou o noticiário sobre a Lava-Jato ao longo dos anos reconhece o tempo todo as incontáveis referências reais tanto em situações quanto em personagens. A forma como a Operação usou recursos legais para avançar com o processo, por exemplo, é traçada com detalhes. As prisões preventivas de empreiteiros, a condução coercitiva de Lula e a soltura de réus do processo com base em delações, tudo isso entremeado por articulações entre a turma de Michel Temer, Aécio Neves e Eduardo Cunha para que as delações dos empreiteiros fossem apenas até o ponto necessário para derrubar o governo do PT e “estancar a sangria”. Enquanto a história da política nacional avança, os personagens passam por conflitos, o que é tradicional em qualquer roteiro de ficção.

Durante esses pormenores o protagonista interpretado por Selton Mello faz um compilado de todos os escândalos de corrupção que não foram completamente investigados pela Polícia Federal nas últimas décadas chegando à configuração do tal Mecanismo que nada mais é que a rede estrutural de corrupção entre o setor privado e agentes públicos que movimentou a economia e a política nacional desde o governo militar. Os culpados? PT, PSDB e, sempre, em qualquer governo, o PMDB. Esse sistema é colocado em contraposição ao famoso Powerpoint do procurador da república Deltan Dallagnol, que também foi retratado com todas as setas apontando para Lula, no caso, Gino (todos os personagens e instituições tem o nome alterado).

O Mecanismo | Temporada 2 – Trailer Oficial [HD] | Netflix

Em primeiro plano ou nos detalhes secundários, O Mecanismo abraça diversas das narrativas ainda hoje em conflito sobre os fatos recentes da política nacional. A série pode ser um pouco indigesta tanto para fanáticos de esquerda quanto para os fanáticos de direita, o que torna o trabalho ainda mais interessante e verossímil. Desde a abertura com o velho clássico do samba “Reunião de Bacana” (”Se gritar pega ladrão, não fica um meu irmão…)” com uma sequência de cenas históricas da política brasileira, fica claro o objetivo de José Padilha e companhia de atingir com artilharia pesada todos os envolvidos, sem distinção. Mais um ponto para o genial diretor de Tropa de Elite! E menos vários para nós todos que sustentamos o verdadeiro mecanismo todos os dias com o suor de nosso trabalho. Então, se ainda não viu, corra para ver a série e deixe a sua opinião aqui nos comentários!