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Nós e os filhos na pressão

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Na condição de pai de dois filhos adolescentes (a mais velha já está encaminhada), me pego tentando entender o que está acontecendo com esta garotada que sai do ensino fundamental e já entra no ensino médio tensionada, pressionada a decidir sobre o futuro profissional e o que é pior, na obrigação de entrar numa faculdade de ponta, seja pelo vestibular tradicional, seja usando a nota do Enem. E quando entra o Sisu, então, vira uma bolsa de valores do ensino superior.

– Pai, hoje o dia abriu em alta para Relações Internacionais na UNB, mas vamos esperar amanhã para ver se cai a relação candidato-vaga.

– Ah, com esta nota dá para tentar Matemática na Federal do Paraná. 

E assim ficam os pais e filhos, numa angústia de cortar o coração. Claro que este é apenas um corte da nossa sociedade malucamente desigual. Falo de uma parcela da população que consegue pagar uma escola particular de ensino médio e sonha com o filho numa universidade pública. A grande maioria dos brasileiros à margem desta discussão e a chocante minoria que manda os herdeiros estudarem no exterior seriam tema para outra crônica.

Aí não consigo escapar da velha armadilha que desde os egípcios se repete. Da mesma maneira que você ouviu seus pais dizendo que no tempo deles era diferente, agora é a nossa vez.  E continuamos fazendo tudo igual, como diria Belchior. Como não vou ser eu o louco a quebrar esta corrente imemorial, digo que – na minha época – só fui me preocupar com vestibular no segundo semestre do terceiro ano colegial. E foi o que foi. Não tinha essa de “não gostei do curso”. Era começar e ir até o fim.

Nos anos 1980, o número de profissões relacionadas a um curso superior mal e mal chegava a 50. Hoje, são quase trezentas opções martelando na cabeça destes meninos e meninas que, é claro, não tem a mínima noção do que podem vir a ser.  Então, eles começam um curso e querem desistir depois de seis meses. Isso quando não vão parar numa sessão de terapia. E vocês, pais e mães? Logicamente, sambam para saber se deixam o barco rolar, se esta indefinição é assim mesmo, ou se tentam seguir a linha de quem acredita que essa moçada precisa aprender o que é frustração. Você acha que é um castigo muito grande obrigar o seu filho a concluir o curso que começou? Ou dar essa chance de testar um novo curso pode ser uma atitude encaminhada sem se transformar em mimo ou superproteção.

Definitivamente, são tempos difíceis. Principalmente quando nós – pais e mães – disputamos a atenção de nossos filhos com a concorrência desleal dos vídeos e games da internet.

VOLTA DAS FÉRIAS – Depois de uma breve parada na virada do ano, volto a escrever esta coluna semanal para o Portal da Thathi e aos sábados, das 8h às 10, tem o “Embalos de Sábado”, ao vivo, na Thathi FM. Durante a semana o nosso encontro diário é no SP Record, às 19h15. Que 2020 nos seja leve!