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Educação: de si para si e para o mundo

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Engraçado como aquilo que aprendemos em meio à família nos é incorporado sem que tomemos a devida consciência. De repente, quando percebemos – ou não –, estamos a repetir e/ou conceituar gostos, palavras, vontades, gestos, lágrimas e tantos outros. Creio que faça parte da essência humana.

Cada um à sua crença, no final das contas, todos pensam estar sempre a fazer o melhor e Vida(s) Maria(s) se repetem a gosto ou a contragosto. E assim passei muito tempo a questionar se este reflexo da personalidade alheia na nossa integra nossos quereres e vontades em respeito aos que amamos, admiramos ou obedecemos de alguma forma, fazendo o ciclo girar incessantemente.

Lembro-me de um dia, ao espalhar potes de tintas, pinceis e cartolinas sobre a mesa, pegar-me parada e estagnada ao perceber duas jovens, entre seus 13 e 15 anos, inertes diante a proposta de direito à liberdade colorida.

O acanhamento, a incerteza, a insegurança, extrapolaram os cinco minutos antecedentes à primeira pincelada até o momento em que as mãos, encharcadas de tinta, foram transformar e libertar a tensão inicial. Depois, não apenas a cartolina, mas rostos, braços e cabelos passaram a receber toques coloridos enquanto os olhos procuravam saber, ao redor, se haveria repreensão.

Levei esta cena comigo durante muito tempo e, naquela noite, fui dormir me perguntando onde se encontra o colorido da vida, do dia a dia e da rotina, da possibilidade de liberdade que é cobrado, mas não mais ensinado e nem mais permitido. O mundo está chato. Tão cheio de regras e limites e cobranças de autonomia estará o mundo de hoje, do avesso, a engessar uma jovem sociedade que busca um não sabe o que ao caminhar não se sabe para onde?

Não, nada mais é como antes… Somos hoje pertencentes à era consciente que inibe cantigas maliciosas e que não atira mais o pau no gato enquanto cantigas infantis e músicas que compuseram tantas existências já não são mais referência nem a jovens e nem a velhos. Não, nada mais é como antes, pois já varrido e revirado pelo tempo, há paus que não podem ser atirados nos gatos enquanto há balas e sangue em corredores e corpos. Nada mais é como antes… O mundo está frio. Mas… Como era? Antes? Desafiador responder…

Nada mais é como era… Estará torto o mundo com pancadas e pancadões que ofuscam o doce balanço a caminho do mar? É preciso refletir: o mundo está translúcido. E quando me pego dizendo, pensando ou sentindo que estou ficando velha, hoje sorrio sozinha, como neste instante aqui escrevendo e não mais me enraiveço como outrora diante de tal pensamento.

Ao cursar a Psicopedagogia tive a oportunidade de completar um vazio que sequer sabia existir: a compreensão do não convencional, a tolerância para com a não correspondência às expectativas, o sentido amplo da oportunidade e assim por diante. Isto porque a raiva e a inconformidade só fazem parte daquilo que não se compreende. E assim surgem as frustrações, as cobranças, a auto sabotagem, os transtornos emocionais de uma sociedade emocional e pessoalmente adoecida e perdida.

O não se conhecer traz aos indivíduos uma competitividade projetada nos filhos, nos pais, nos irmãos, nos pais, nos amigos, nas famílias como se o direito à individualidade fosse fútil e vil. Desta forma as repetições são incentivadas e acatadas dentro e fora das sociedades em um ciclo vicioso patológico que põe em xeque a pureza da esperança diante das frustrações acumuladas e alimentadas diariamente.

Sendo assim, todos assinalam a certeza de esperarem o novo, buscarem a novidade ao passo que se enrijecem diante daquilo que não compreendem e/ou não conhecem. Tanto na própria vida, na alheia e tanto quanto tudo o mais que envolve a sociedade: religião, política, saúde, sexo, família, educação, profissão.

Por conseguinte, faz-se necessária a reflexão a respeito das funções executivas dos seres sociais e sociáveis, mas mais ainda a respeito da capacidade das pessoas em se dispor a se abrir ao mundo em si mesmas por si mesmas, alcançando enfim a consciência de que o autoconhecimento não é a porta, mas a chave para se adentrar o mundo pessoal e universal da paz, da conquista, da liberdade e, consequentemente, da felicidade.