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Crônica da separação

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Crônica da separação
Eduardo Schiavoni | Foto: Arquivo pessoal

Disse adeus, e chorou, já sem nenhum sinal de amor. Ela se vestiu, e se olhou, sem luxo mas se perfumou – Ela disse adeus, Paralamas do Sucesso

Era realmente triste o fim. Enquanto uma lágrima fria corria no rosto, arranjando espaço entre a barba cerrada, o corpo se movia numa sofreguidão que denuncia que se mover era preciso, viver não. Enquanto as mãos, tremulas, empacotavam objetos, os sentimentos eram encaixotadas na alma num sentimento que oscilava entre a ânsia de vômito e o desespero.

Naquela solidão gerada quando, juntas, as pessoas não conseguem se completar, passou a viver sem questionar. Aceitou o beijo frio, o amor sem disposição, o passeio sem as mãos dadas e, golpe fatal, a absoluta falta de vontade para compartilhar simples palavra. Mas, ainda assim, a lágrima continuava a rolar por entre os fios espessos do rosto, de resto sofrido.

Enquanto as mãos se moviam, tentou relembrar o momento em que tudo definitivamente se perdeu. Das palavras não ditas, das discussões não havidas e da paixão que, tal como fogo sem ar, lentamente diminuía até finalmente deixar de existir. Não teve qualquer conclusão. Encaixotar é preciso, viver, não, parafraseando o poeta.

Deixou o apartamento sem olhar para trás, mas teve tempo de balbuciar um “até um dia”, que, sabia, não iria chegar nunca.

A caminho do carro, antecipou algumas das lágrimas que, sabia, verteriam dos seus olhos pelos próximos meses. Olhou para o céu, estrelado numa noite cria de inverno. Não teve esperanças, mas sorriu, amarelo, e seguiu pela noite.