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Ao sonhador inconformado e quixotesco que insiste em ser feliz

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Ao sonhador inconformado e quixotesco que insiste em ser feliz
Sérgio Degrande é jornalista, radialista e professor

Por que fui ser professor?. Era atraente dar aula no cursinho e eu amava ensinar. Meu ideal era ser como os meus ídolos do tablado. Mas nem sempre o ideal bate com a realidade. Dar aula não é glamour, é entrega diária. Ninguém fica rico dando aula. Se assim foi, por que não desistir da carreira? Era jovem, tinha um mundo na frente Poderia ter sido médico, engenheiro, administrador, empreendedor, ganhar, quem sabe muito dinheiro. No entanto, fui ser professor por uma única razão: o sonhador inconformado. Somos muitos sonhadores inconformados, o mais famoso de todos nós foi D. Quixote. Acreditamos numa sociedade onde a igualdade respira ao lado do homem. Acreditamos que não exista ninguém que não mereça a chance de crescer socialmente. Acreditamos no amanhã, como nosso alimento, nosso oxigênio, nossa existência. Acreditamos que todos nascem e continuam bons , só os dentes de uma sociedade cruel os aterroriza. Acreditamos na luta contra a sociedade nociva. Acreditamos no sol e na lua e na perpétua lição da natureza. Acreditamos que a vida dá oportunidades aos pássaros e suas asas. Acreditamos em quem é capaz de voar nos seus designos. Acreditamos na eterna inocência dos homens, mesmo armados e violentos. Acreditamos que acreditar seja o nosso pão e a nossa desgraça. Por isso somos inconformados também. Inconformados porque ver é um dom, bem mais profundo que enxergar. Porque o individualismo é a morte. Porque a montanha não é mais cruel e complexa do que o mar. Inconformados porque cantamos solitariamente aos lobos. Inconformados porque não somos vistos à luz do dia e nos transformamos em espectros durante a noite. Inconformados porque somos capazes de colecionar estrelas, ventos e temporais e fazer deles uma deliciosa valsa. Inconformados porque reconhecemos a tragédia no quadro Guernica de Picasso. Porque choramos diante da obra de Rafael , Da Vinci e Michelângelo. Porque viajamos na música de Bach, porque choramos num texto de Fernando Pessoa. Porque amamos o que muitos odeiam. Inconformados porque somos capazes de descobrir a arte na caminhada solitária de todos os dias. Inconformados porque não temos presente e nem futuro. Porque somos invisíveis. Porque nos fazem homenagens esquecidas nas palavras. Somos sonhadores inconformados, porque amamos o mundo, porque sabemos, no fundo da alma, que ao morrer, ganharemos um cavalo branco, alquebrado, chamado Roncinante, teremos um amigo chamado Sancho Pança e uma Dulcinéia, que precisa ser libertada dos exércitos inimigos, fantasiados de moinhos.