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A campanha eleitoral na Internet: um alerta aos “bigornas” e aos “candidatos de boteco”

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A campanha eleitoral na Internet: um alerta aos “bigornas” e aos “candidatos de boteco”
Gustavo Bugalho é advogado atuante em Direito Público e Direito Eleitoral

A internet, já há alguns anos, vem sendo um campo de disputas políticas e eleitorais.

Desde as eleições municipais de 2016, houve uma crescente na busca por esse meio para a promoção de postulante a mandatos eletivos. A partir das eleições de 2018, com a alteração da legislação eleitoral, para permitir a utilização de impulsionamento de propaganda eleitoral na internet, e com o crescimento acelerado da utilização das redes sociais pela população brasileira, este meio de comunicação vai dar abertura a muitas vozes que, até então, não tinham maiores condições de se manifestar.

O pré-candidato e, nos meses seguintes, o candidato que souber utilizar corretamente as ferramentas proporcionadas pelas redes sociais, certamente terá uma vantagem em relação a boa parte dos demais candidatos na corrida eleitoral.

Com as mudanças recentes que estão ocorrendo no processo eleitoral no geral, quando não teremos mais as famosas coligações que permitiriam maior força midiática a alguns partidos políticos e, com a atual forma de distribuição da propaganda eleitoral no rádio e televisão, os candidatos a cargos proporcionais precisarão buscar alternativas para se fazerem conhecer e, nesse caso, a rede social e a internet podem ser uma aliada dos pequenos candidatos. Ou sua carrasca.

 Explico.

Para alguns candidatos, que, durante os quatro anos anteriores já tinham um projeto, um planejamento estratégico, buscaram realizar atos em prol da comunidade, criaram seu nicho – ou melhor, seu público – e trabalharam de maneira incansável e com foco muito bem definido e organizado, as redes sociais serão uma grande aliada a toda a equipe que poderá pulverizar os trabalhos, as opiniões e as propostas de trabalho de um candidato que realmente esteve à frente de um projeto parlamentar e de uma atuação no mundo real.

A grande maioria, entretanto, começa realizar seus trabalhos de redes sociais no mês de outubro do ano anterior às eleições. Alguns, ainda pior, aguardam passar a ressaca do Réveillon para pensar no projeto eleitoral e em tentar criar uma imagem virtual nas redes.

Surge, nesse período, um tiroteio de postagens aleatórias. O fato é que desde o abrir das luzes do ano eleitoral é possível, para quem tem um olho um pouco treinado, notar cada um dos seus “amigos” de redes sociais e perceber quais serão ou não candidatos, apenas pela sua mudança de comportamento.

Mais grave, que determinados aspirantes a candidatos, por falta de boas assessorias de marketing e jurídica, ou, em alguns casos, por falta de bom senso mesmo, acabam por optar por estratégias furadas de divulgação. Tais estratégias, longe de permitir mostrar seus trabalhos, muitas vezes transformam-nos em chacota ou até mesmo em “arautos da desgraça” perante o futuro eleitorado.

Aquele seu contato que nunca se manifestou em redes sociais, passa a tirar fotografias abraçados em líderes de bairro ou de associações, feiras-livres e passa a um momento de epifania de amizades: “hoje tomando uma garapa com meu amigo Fulano de Tal.” Interessante notar o quanto ainda é comum tal comportamento, transportado da “política de boteco”, existente e funcional até meados dos anos 90.

Outro tipo de pré-candidato, que costumo chamar de “candidato bigorna”: inicia-se o ano e surgem as famosas postagens e montagens sobre os atuais prefeito e vereadores. Algumas com certa dose de inteligência e outras de extremo mal gosto. O aspirante a candidato se depara com a necessidade de publicar textões de crítica, muitas vezes descendo o nível vergonhosamente a palavras de baixo calão e ofensas. As ofensas são diárias, constantes e a verborragia, parece-me, ilimitada.

O fato é que, salvo poucas e folclóricas exceções que, em alguns casos, após várias tentativas conseguiram chegar a uma Câmara Municipal ou a uma suplência congressista, tal estratégia de ataque kamikaze pode ser muito perigosa para os marinheiros de primeira ou segunda viagem. A linha entre a crítica e o crime contra a honra é muito tênue e, no mais das vezes, solenemente ultrapassada e arrebentada.

A internet, ao contrário do que muitos vem pensando, não é terra de ninguém. O autor e o divulgador de fake news e de ofensas contra a honra na internet são responsáveis pela disseminação de tais excrecências e, como tal, podem responder cível e criminalmente pelas suas manifestações. E isso não se resume curto período de quarenta e cinco dias de campanha eleitoral, mas a qualquer período em que se dê a ofensa. Tal situação se agrava, entretanto, nesse período de pré-campanhas: os olhares estão atentos e as medidas serão invariavelmente tomadas, caso existam exageros e manifestações desarrazoadas.

Ao candidato “de boteco” e ao candidato “bigorna”, uma última sugestão: Uma candidatura real demanda estratégia, dispêndio financeiro, conhecimento e uma boa assessoria por trás do interessado. Por isso é essencial ao aspirante a candidato buscar se cercar de bons profissionais e aprender diariamente com cases de sucesso, permitindo-se, assim, a ter um mínimo de condição de participar ativamente, não apenas como mero coadjuvante, da disputa eleitoral.