Botafogo SA tem prejuízo de R$ 15,5 milhões e deve R$ 15,1 milhões a empresa de Baptista, diz auditoria

Informações constam de relatório de autoria financeira independente; acordo que formou empresa é contestado na Justiça

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 A empresa Botafogo Futebol SA teve prejuízo, em um ano e meio, de R$ 15,5 milhões, em dados atualizados até dezembro de 2019. Os dados constam do relatório de consultoria assinado pela Moore Prisma Auditores e Consultores, que analisou a situação das contas do clube. O valor total da empresa, de acordo com o balanço, é de R$ 20 milhões.

Segundo o relatório, “a Companhia apresentou prejuízo no exercício findo em 31 de dezembro de 2019 de R$ 12,1 milhões  (…) e prejuízos acumulados de R$ 15,5 milhões em 31 de dezembro de 2019″.

Os auditores informaram, ainda, que “a administração da Companhia possui planos de ação com relação a esse desequilíbrio econômico-financeiro, entretanto, até que ela concretize com êxito seus planos, dependerá de recursos financeiros provenientes de terceiros ou dos acionistas para a continuidade normal de seus negócios”.

Na prática, significa que, para sobreviver, dependerá de aportes de terceiros, incluindo empréstimos como os assinados com Adalberto Baptista e sua empresa.

Dívida

O balanço mostrou ainda que a Botafogo Futebol SA deve à Trexx, empresa de Adalberto Baptista, R$ 15,1 milhões. Na prática, 60% da dívida pertence ao Botafogo Futebol Clube. Em valores atuais, esse montante superaria os R$ 9,1 milhões em aportes.

A reportagem do Grupo Thathi procurou, através da assessoria de imprensa, a BFSA, no fim da tarde, para comentar o prejuízo, e como ela pretende fazer para revertê-lo. Também questionou a origem das dívidas com a empresa de Adalberto Baptista, mas não obteve resposta até o fechamento da matéria.

Parceria

A Trexx e o Botafogo chegaram a um acordo, no fim de 2018, para que a Trexx realizasse a modernização do estádio Santa Cruz e passasse a gerir o futebol do Pantera.

Depois de uma consultoria que apurou o valor da marca do Botafogo, avaliada em R$ 20 milhões, foi criada uma empresa responsável por administrar essa marca. Baptista investiria R$ 8 milhões no negócio, passando a ser dono de 40% dessa empresa, e o BFC, dono dos outros R$ 12 milhões, teria 60% das ações desse novo time, o BFSA.

Pelo modelo, a BFSA assumiria todos os custos e receitas do futebol, sendo a responsável por administrar contratos de jogadores, receitas de TV e renda dos jogos, entre outros. O BFC arcaria com custos trabalhistas anteriores à parceria e com obrigações tributárias.

A receita da BFSA, portanto, seria distribuída entre os sócios ao fim do exercício. Se houvesse superávit, BFC ficaria com 60% e o investidor, 40%. A parceria, celebrada como modelo no novo futebol, entretanto, não foi exatamente essa.

Acordos

Criada para ser uma fonte perene de renda, com aluguel de espaço para bares e capacidade para receber shows, a construção da Arena Eurobike seria parte fundamental nesse processo. Aproveitando a estrutura do Estádio Santa Cruz, houve reforma, colocação de cadeiras e construção de infraestrutura. O valor das obras foi orçado em R$ 5 milhões. Esse dinheiro, que o BFC não tinha, seria investido pela Trexx. Integraria o aporte inicial de R$ 8 milhões.

Iniciadas as obras, a Trexx começou a divulgar que houve um sobrepreço no valor das obras. O valor exato nunca foi declarado, mas, entre conselheiros botafoguenses, a versão é que as obras teriam custado entre R$ 15 e R$ 20 milhões. Nenhum documento, entretanto, foi submetido ao Conselho do Botafogo Futebol Clube.

Segundo o contrato assinado em São Paulo, os valores extras das obras, que ultrapassassem os R$ 5 milhões previstos na obra, teriam que ser divididos entre BFC e Trexx, os sócios da SA. Sem dinheiro em caixa, o BFC viu-se obrigado, então, a recorrer à Trexx, que investiu o necessário para finalizar as obras. Segundo o contrato, esse aporte, na ocasião, seria de R$ 5 milhões extras para cada um dos sócios. As obras, entretanto, continuaram depois da assinatura, sendo alvo de novos aditivos.

Por conta dessa situação, o Botafogo Futebol Clube aceitou abrir mão das receitas da venda de todos os bares do estádio, bem como dos alugueis que seriam pagos pelos bares Seo Tibério e Hard Rock Cafe, bem como de qualquer outro estabelecimento que se instalasse na Arena Eurobike.

O Conselho do Botafogo Futebol Clube afirma que nunca teve ciência desse contrato, que foi assinado por Gérson Engrácia Garcia, então presidente do BFC e da BFSA, e a Trexx. Também afirma que não houve autorização para que o negócio fosse feito.

Ação Judicial

Um grupo de conselheiros chegou, inclusive a ingressar com uma ação judicial na qual debatem a nulidade do contrato do clube com a Trexx, empresa de Adalberto Baptista que resultou na formação da Botafogo Futebol SA (BFSA).

O advogado do grupo, Clito Fornaciari Júnior, especialista em direito esportivo, acredita que a parceria pode ser anulada.  “Na verdade, é uma questão de direito. Não queremos debater os aspectos da parceria, e sim o negócio jurídico em si. Bastará a Justiça reunir a documentação e constatar que as formalidades legais para a criação da SA não foram seguidas”, afirma o advogado.

Outro lado

A reportagem do Grupo Thathi procurou o presidente do Botafogo Futebol Clube, Osvaldo Festucci, para ouvi-lo sobre o caso. Ele informou que não poderia falar nesta terça-feira, mas que daria entrevista amanhã. A reportagem também procurou o presidente da BSFA, Gérson Engrácia Garcia, mas ele não respondeu às mensagens enviadas.