Objeto radioativo é retirado e causa preocupação no cartório eleitoral de Ribeirão

Técnicos do IPEN fizeram a retirada dos objetos, que vieram de para-raio antigo; riscos a pessoas são pequenos

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Prédio da Justiça Eleitoral em Ribeirão Preto - Foto: Lucio Mendes

Técnicos do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN) estiveram, na última semana, no prédio da Procuradoria Geral do Estado (PGE), na região central de Ribeirão Preto, e fizeram a retirada de dois objetos radioativos. Apesar do baixo risco de contaminação, as peças foram retiradas com medidas especiais de segurança e enviadas para a sede da instituição, em São Paulo.

As peças foram descobertas na terça-feira (4), quando Bombeiros estiveram no prédio da PGE para a retirada de alguns objetos, que estavam guardado em sacos. Na ocasião, a retirada do material não foi feita, já que os bombeiros alegaram que, por se tratar de material supostamente radioativo, a responsabilidade seria do IPEN.

Houve uma série de explicações desencontradas sobre esses dois fatos, sendo que ninguém confirmava a veracidade das informações, ou mesmo a existência desses objetos radioativos na PGE, onde funciona, também o cartório eleitoral da cidade.

A reportagem do Grupo Thathi ficou sabendo do caso e, na quinta-feira (6), conseguiu estabelecer contato com o procurador regional, Luciano Alves Rossato, que, aí sim, confirmou o caso. Mas informações complementares, entretanto, só seriam conseguidas com a assessoria de comunicação da PGE, na capital paulista.

A nota veio na sexta-feira (7). O que parecia apenas ser um boato, na verdade, tratava-se da localização de dois para-raios radioativos, usados no país durante algumas décadas, e em desuso atualmente, que foram encontrados em um procedimento de limpeza no depósito, dentro de caixas, onde se visualizava o símbolo de material radioativo.

Césio 137

Para-raio antigo, similar ao que foi retirado da Procuradoria Geral Eleitoral em Ribeirão – Foto: Divulgação

A situação gerou apreensão. Afinal, em 1987, dois jovens catadores de papel encontraram e abriram um aparelho contendo o elemento radioativo em Goiânia no que ficou conhecido como o caso do “Césio 137”. A peça foi achada em um prédio abandonado, onde funcionava uma clínica desativada.

O caso foi o segundo pior desastre nuclear do mundo e o maior acidente radioativo da história fora de uma instalação nuclear. Na ocasião, cinco pessoas morreram, e mais de três centenas foram contaminadas pelo produto, que havia sido abandonado em um equipamento que estava dentro da clínica.

Em Ribeirão, entretanto, o objeto encontrado não foi o mesmo. “Foram localizados dois pequenos pacotes muito antigos entre os bens guardados no local, constando em ambos o símbolo de material radioativo. Preventivamente, o Corpo de Bombeiros foi acionado e, posteriormente também foi acionado IPEN, que constatou se tratar de dois para-raios que, segundo a técnica do IPEN não ofereciam risco às pessoas ou ao local”, disse Rossato.

Para-raios

A fabricação de para-raios radioativos no Brasil foi autorizada de 1970 até 1989 porque a literatura técnica da época indicava que os captores radioativos tinham uma eficiência maior que os convencionais. Em 1989, a Comissão Nacional de Energia Nuclear, suspendeu a autorização para a fabricação e instalação deste tipo de captor no País.

Apesar da declaração tranquilizadora de Rossato, entretanto, o IPEN informou que esse tipo de equipamento não é mais comercializado no País. “Quando substituído, um para-raios radioativo passa a ser rejeito radioativo e deve ser recolhido à CNEN. Quem deve providenciar a substituição é o proprietário da edificação”, diz o Ipen, em nota.

Ao contrário do que declarou Rossato, entretanto, o material, embora tenha baixo potencial radioativo, ainda pode causar riscos aos seres humanos, especialmente se houver contato com a pele.

“O material radioativo destas fontes é, em quase 100% dos casos, o radioisótopo Amerício-241. Este material emite radiação alfa que tem alcance no ar de apenas poucos centímetros e radiação gama de baixa energia apresentando, por isso, um risco pequeno de irradiação. Contudo há risco de contaminação por contato com a fonte, sendo necessário seguir estritamente as instruções fornecidas pelo IPEN”, diz a nota.

Com a presença do IPEN no local, entretanto, os pequenos pacotes radioativos foram efetivamente retirados do local e enviados para seu fim adequado.

Colaboraram Valmir Bononi e Eduardo Schiavoni

ERRATA: O nome do procurador regional da PGE em Ribeirão, Luciano Alves Rossato, foi grafado erroneamente na matéria como Luciano Passos. A informação foi corrigida.