Casa não é lugar seguro para mulheres vítimas de violência, diz Conselho de Psicologia

Convivência acentuada na pandemia potencializou violência dentro dos lares brasileiros; confirma o que fazer em caso de violência

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Violência contra a mulher Foto: Pixabay

No primeiro 8 de março ainda no contexto de pandemia, as mulheres, mesmo em casa estão ameaçadas por um inimigo: o machismo. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, os registros de violência doméstica durante o primeiro semestre da pandemia no 190 aumentaram em 3,8%, totalizando mais de 147 mil chamados.  Outro dado alarmante é a morte de 648 mulheres por feminicídio.

De acordo com a psicóloga Andreína Moura, membro do Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Norte (CRP-RN), o isolamento social fez com que as mulheres ficassem mais suscetíveis a sofrerem violência com o convívio 24 horas com os agressores, que em sua maioria são companheiros das vítimas.

“Um comportamento comum aos agressores é isolar e ter controle sobre a vítima, com isso, a convivência acentuada na pandemia potencializa ainda mais os conflitos e as situações de violência dentro do lar’’, afirma a conselheira.

Ciclos

De acordo com a psicóloga Andreína Moura, a violência ocorre em ciclos. O primeiro é através da tortura ou violência psicológica, pouco percebida dentro dos relacionamentos abusivos.

Andreína Moura, membro do Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Norte

A violência psicológica consiste em humilhar, ofender e diminuir a vítima, podendo ser agravado pela dependência emocional ou financeira. Um segundo processo do ciclo é a violência física e por último, o risco do feminicídio, até as vias de fato, caso o ciclo não seja interrompido.

Não naturalizar o machismo é fundamental para o rompimento do ciclo. “Romper o silêncio é fundamental. Nomear o que a mulher sofre como violência e não como ‘uma coisa normal de casal’ é o primeiro passo para romper o ciclo de violência”, pontua a psicóloga.

É importante não responsabilizar a vítima pela não notificação. “O medo, a vergonha, a descrença nas leis e no Sistema de Justiça, a crença na mudança do parceiro, a dependência emocional e/ou financeira, podem fazer com que a mulher em situação de violência não procure ajuda”, explica Andreína.

Papel

Para o CRP-RN, é importante que o Estado ofereça plantão 24 horas na Rede de proteção como em instituições de abrigamento temporário, instituições de acolhimento, Centros de Referência, Casa Lar, Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM).  Além de promover a educação e conscientização das mulheres sobre temas como: direitos sexuais e reprodutivos, violação de direitos, empoderamento econômico, capacitação e oportunidade de trabalho, dentre outros.

O órgão destaca ainda o papel da sociedade. “A concretização do combate a violência não depende apenas de leis e decretos, mas de mudanças nos modos de pensar e agir da sociedade para compreensão sobre as violações dos direitos humanos da mulher”, enfatiza.

Apoio Psicológico

Ainda de acordo com a psicóloga, o atendimento psicológico às vítimas de violência estrutura-se em ações de escuta e de proteção que propiciem condições para a superação do sofrimento causado pela situação de violação de direitos.

“Profissionais que lidam com casos de violência contra mulher, devem avaliar as peculiaridades de cada caso para decidir se o encaminhamento é para um serviço de saúde mental, ou se propõe um conjunto de atendimentos psicossociais no seu plano terapêutico”, afirma.