Empresário percebe furto de R$ 10 mil e tortura funcionário

Caso aconteceu em Aparecida de Goiás; homem foi torturado para confessar e autor e o irmão foram presos e indiciados pelo crime

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Trabalhador espancado e torturado pelo patrão em Aparecida de Goiânia

Um empresário e o irmão dele foram presos em flagrante em Aparecida de Goiânia (GO) sob a acusação de torturarem um funcionário de 32 anos. O empresário admitiu o crime e informou que teve a ação por acreditar que a vítima teria furtado R$ 10 mil de sua propriedade. Ambas as acusações são investigadas pela Polícia Civil do Estado.

De acordo com a versão apresentada à polícia pela vítima, o empresário Silvonio Ferreira de Souza havia contratado a vítima, que pediu para não ser identificada, para trabalhar em uma obra. O empresário afirma ter deixado R$ 10 mil em uma gaveta em um rack, dentro do imóvel, na quarta-feira (19).

Na tarde de sexta-feira, o Silvonio foi procurar o dinheiro e notou que os valores não estavam no local. Ato contínuo, acusou a vítima e um outro companheiro de trabalho dela de furto. Ambos negaram o crime e partiram, cada um para sua respectiva residência.
No sábado, por volta das 15h, o empresário foi até a casa da vítima, novamente acusando-o de furtar o dinheiro. O empresário chamou a vítima para conversar sobre o caso em sua casa, pedido que foi aceito.

Agressão

Ao entrar na casa do patrão, a vítima conta que começou a ser agredida com tapas no rosto. Ele foi dominado e começou a ser agredido com uma mangueira. O empresário também tentou enforcá-lo.

“Eu entrei e ele já me deu um tapa na cara. Depois, começou a me bater. Fiquei zonzo, nem vi de onde vinha as porradas que estava levando”, contou o empregado.

Num dos momentos mais tensos, ele conta que o empresário tentou forçar uma confissão, gravando a agressão com seu celular. Após bater na vítima até deixá-la quase desacordada, jogou água nele e passou a dar choques, usando fios desencapados.

Muito debilitado e com medo de morrer, o funcionário acabou confessando o furto, dizendo, entretanto, que já havia gasto todo o dinheiro. “Eu não peguei nada dele, mas tive que confessar. Tive medo de morrer e acho que, se continuasse negando, ele tinha me matado de tanto bater”, conta.

Em casa

Nesse momento, o irmão de Silvonio chegou ao local. A pedido desse irmão, Silvonio resolveu permitir a saída dele do local, determinando que ele devolvesse o dinheiro até o final do Carnaval.

O empresário, entretanto, foi até a delegacia do 4º Distrito Policial, onde registrou uma queixa apontando o empregado como autor do furto.

Enquanto isso, a vítima, depois de deixar a casa do patrão, procurou seu irmão e contou o que havia acontecido. Com o corpo repleto de marcas, os dois procuraram o Instituto Médico Legal (IML), fazendo exame de corpo de delito. Logo depois, dirigiram-se o 4 º Distrito Policial da cidade, onde o caso foi registrado.

Ao chegarem ao local, entretanto, descobriram que o patrão já havia registrado um boletim de ocorrência. Ao explicar aos policiais a sua versão da história, as autoridades foram até a casa do empresário, que confirmou a tortura.

Pena

A reportagem tentou falar com a família de Silvonio e do irmão dele, mas ninguém da atendeu aos telefonemas. A reportagem também não localizou os defensores do empresário e do irmão.
De acordo com o advogado João Alves, especialista em direito penal pela Universidade de São Paulo (USP), a tendência é que Silvonio e o irmão permaneçam presos e seja indiciados por tortura. “Por se tratar de crime inafiançável, os dois devem permanecer presos. Ele está sujeito a uma pena de até oito anos de prisão, além de multa”, disse.

Procurada, a Polícia Civil de Goiás informou que também irá investigar o furto registrado pelo patrão. O responsável está sujeito a uma pena de até quatro anos, além de multa, mas, a princípio, a vítima da tortura não deve ser indiciada. Primeiro, eles irão fazer a investigação para determinar a autoria do crime. “A menos que existam provas do crime, como filmagens, a tendência é que ninguém seja indiciado. Trata-se de um crime que não costuma deixar rastros”, informou Alves.